A tradição de o público ir à
ópera com o intuito de assistir não apenas a uma apresentação musical, mas
também a um espetáculo teatral se popularizou há séculos. Entretanto, apesar de
alguns países europeus manterem essa tradição com a mesma frequência, os
espectadores brasileiros não têm tanto o costume de ir ao teatro para
assistirem a uma ópera. Será?
Já
começo esse texto instigando o leitor a refletir sobre o assunto, pois
comentarei sobre a experiência que observei no dia 11 de novembro de 2011, no
Theatro Guarany, em Pelotas/RS, onde foi apresentada a ópera cômica “ La Serva
Padrona”, de Giovanni Pergolesi. A história versa sobre as artimanhas que uma
empregada faz para conquistar o coração de seu patrão e impedir que ele se case
com outra mulher. Com um desenrolar cheio de peripécias engraçadíssimas, a
serva consegue atingir o êxito em sua empreitada no final do espetáculo.
A
montagem feita pela Orquestra de Câmara da FUNDARTE, contava com um elenco
formado por Rosimari Oliveira, Ricardo Barpp, Juliano Rossi, regência de
Antônio Borges-Cunha, direção e concepção cênica da excelente atriz e diretora
de teatro Jezebel de Carli. Os que estiveram presentes, observaram um teatro
totalmente lotado por um público ansioso por prestigiar uma linguagem cênica com
tão poucas montagens nos dias de hoje. Não foram poucas as vezes que ouvi dos
espectadores a minha volta, comentários interrogativos sobre como seria uma
ópera e que tipo de histórias contava.
A
proposta cênica em questão, quebra com o paradigma de que, para montar uma
ópera, há a necessidade de um grande elenco e uma orquestra enorme. Obviamente,
que o texto de Pergolesi favorece, pois é composto por poucos personagens.
Entretanto, assim como esse, existem muitas óperas que poderiam ser
tranquilamente levadas à cena.
Gostaria
de salientar a proposta de encenação que colocou os instrumentistas e regente
em cima do palco não apenas como músicos que executam a trilha sonora do
espetáculo, mas também com personagens que interagem e fazem parte do contexto
cênico. A caracterização, figurinos, maquiagem, iluminação e cenário estavam
totalmente integrados à proposta da diretora. Nesse sentido, gostaria de
ressaltar o trabalho de Jezebel de Carli que aqui dirige o elenco todo com
muito talento, extraindo desses profissionais os melhores resultados cênicos.
Além disso, Rosimari, Ricardo e Juliano contagiaram a plateia não apenas pelo
seu talento vocal, mas pelo seu carisma e verossimilhança que conferiram aos
seus personagens.
Todo
esse trabalho, resultou numa ótima aceitação do público que se divertia às
gargalhadas com as peripécias de Serpina, interpretada por Rosimari. Apesar das
músicas serem cantadas em outro idioma, a utilização de legendas colaborou para
que os espectadores pudessem compreender o desenrolar da história.
Nessa
noite, o que ficou claro é que não é que o público goste ou desgoste de ópera,
ele apenas não tem o hábito, desconhece essa linguagem cênica e, na maioria das
vezes, não tem acesso a esse tipo de espetáculo. Termino esse texto com a
felicidade de ver um teatro lotado e os espectadores saírem satisfeitos com o
que acabaram de assistir.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.
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