sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Teatro? Onde? Alguém Ficou Sabendo?


O último mês do ano de 2010 teve uma intensa programação artística na cidade de Pelotas, com diversas apresentações de música, dança e teatro. Ops, teatro? Onde? A mídia divulgou?

No dia 04 de dezembro, esteve em Pelotas o espetáculo Auto da Paixão e da Alegria, com Grupo Timbre de Galo, de Passo Fundo/RS. Infelizmente, o grupo passou despercebido pela mídia local que perdeu a oportunidade de deslocar algum dos seus jornalistas para conhecer as histórias deste grupo que se originou do antigo Viramundos, patrocinado pela Universidade de Passo Fundo. Quando a universidade cortou os investimentos e o fomento em teatro, os artistas tiveram que dar outros rumos as suas carreiras. Para aqueles que os desconhecem, este grupo manteve um intenso trabalho dialogando com as linguagens de circo, teatro de rua, manipulação de bonecos e etc... viajando por todo o estado do Rio Grande do Sul, com um trabalho muito respeitado. Mas, além do respeito e reconhecimento pela crítica, o grupo mantinha um trabalho que era sucesso de público por onde passava.

No entanto, o público pelotense foi pego de surpresa quando viu a estrutura do grupo montada na Praça Cel. Pedro Osório, sem nem saber do que se tratava, nem quem eram aqueles artistas. Esta falha se deve à falta de comunicação dos contratantes, responsáveis pela produção local dos espetáculos e da imprensa local que está mais comprometida ao comportamento provinciano de só divulgar o que vem da TV ou das mídias prontas e massificadas do centro do país.

Além deste espetáculo, no dia 19 de dezembro, o Grupo Stravaganza, de Porto Alegre/RS veio a Pelotas apresentar o espetáculo Sacra Folia, na Praça Cel. Pedro Osório. Alguém ficou sabendo? Mais um trabalho de boa qualidade que passou despercebido pela população pelotense. O Grupo Stravaganza tem um dos trabalhos mais respeitados no Rio Grande do Sul, com diversos prêmios em seu currículo e com uma produção constante. Sucesso de crítica e de público por onde tem passado, infelizmente, os pelotenses ficaram sem saber que estes artistas viriam a sua cidade.

Assisti aos dois espetáculos, em outras oportunidades, fora de Pelotas. São duas montagens que dialogam muito com a linguagem do teatro de rua e com o circo. Os atores de ambas as montagens conseguem imprimir um ritmo rápido e de acordo com a proposta, segurando-o até o final do espetáculo. Em ambos os casos há uma forte identificação popular, se divertindo e se emocionando com as histórias apresentados. Em todo o lugar, quando o público tem a possibilidade de desfrutar de um espetáculo, sempre sai satisfeito.

Neste sentido, critico a falta de divulgação local. Não consigo compreender os objetivos dos projetos culturais dos contratantes que trazem estes espetáculos a Pelotas, já que, em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, as entidades que se destinam a propiciar certas atividades aos seus associados e à população em geral, divulgam e muito todas as suas atividades para atingir cada vez mais a um número maior de indivíduos. Porém, me parece que em Pelotas, os conceitos estão invertidos. Penso que reina a política do não-divulgar, pois já está tudo pago mesmo. Mas, além disso, percebo o total desinteresse da mídia local em divulgar propostas artísticas que não contenham celebridades de capas de revistas em seus elencos. Talvez, porque as pessoas que compõem a mídia local utilizem apenas estas revistas como sua fonte de informação e “cultura”. Quem perde com isso? Toda a população pelotense que deixa de ter acesso às informações e a estas obras artísticas. Como contornar este problema? Com políticas culturais eficientes e com equipe competente gerindo a cultura local, com os trabalhadores da cultura menos alienados e reivindicando os seus direitos.

Espero que este quadro se modifique em 2011.

MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
vagnervarg@yahoo.com.br, www.ccetp.blogspot.com

A Estética do Frio Refletida no Sobrado

Em 2010, Pelotas pôde receber, no dia 20 de novembro, o espetáculo “O Sobrado”, do Grupo Cerco, de Porto Alegre/RS, dirigido por Inês Marocco, apresentado no espaço do Grupo Tholl, na região do Porto de Pelotas. A peça foi muito bem adaptada a partir da obra “O Continente”, do escritor gaúcho Érico Veríssimo.

A história se passa durante a Revolução Federalista, ocorrida no Rio Grande do Sul, em meados de 1895. Durante o desenrolar dos fatos, são retratados os conflitos que surgem entre estes indivíduos numa situação de limite. Para quem conhece a obra de Érico Veríssimo, percebeu que a adaptação da linguagem literária para a teatral se deu de forma fiel e precisa. No entanto, acredito que aqueles que desconheçam a obra literária, sentiram-se instigados a procurá-la, tamanha foi a competência do grupo em criar o ambiente em que aqueles indivíduos estavam inseridos e a condição dramática da sua situação sócio-política.

Um dos grandes acertos do grupo foi a concepção de figurinos que retratou com fidelidade a realidade gaúcha daquela época, estando muito de acordo com a proposta de concepção geral do espetáculo. Refiro isso, pois muitas vezes algumas pessoas pensam que figurinos devam ser sinônimos de fantasias, alegorias de carnaval, ou capas de revistas. Muito pelo contrário, figurinos devem ser funcionais e adequados à proposta do espetáculo. Sua beleza está na adequação à concepção estética da obra. Neste caso, o Grupo Cerco acertou com simplicidade e coerência.

Com certeza, o ponto alto da montagem é a direção competente de Inês Marocco. Percebo que esta diretora tem uma mão muito precisa para trabalhar os desenhos cênicos, administrando muito bem os coros. Além disso, os atores estavam coesos e bem nivelados, mostrando que a diretora soube equalizar as atuações para não gerar discrepâncias. As cenas estavam muito bem construídas, com um encadeamento muito bem adaptado, sem perder a linha de raciocínio da obra de origem. Nesta perspectiva, o ritmo do espetáculo me chamou muito atenção, pois não se trata de um espetáculo com o ritmo frenético que outras linguagens contemporâneas costumam bombardear os espectadores.

No caso do Sobrado, o espetáculo tinha um ritmo próprio e, justamente este ritmo, ajudava a construir o ambiente trágico e pesado do contexto histórico em que aqueles indivíduos viviam. A partir deste ritmo, pudemos visualizar um belo exemplo do que seria a estética do frio, tão bem retratada por Vitor Ramil em sua obra. Esta opção de concepção cênica foi arriscada, pois poderia levar o espetáculo a um ritmo arrastado, moroso e chato. Mas, não foi o que presenciamos, pois a diretora acertou em cheio, ao optar por este ritmo mais lento para contar os fatos.

No que se refere aos atores, percebia-se que havia um grande entrosamento e química entre o elenco. Isto é sempre um ponto positivo em qualquer montagem para que o grupo consiga ter total domínio do espetáculo, podendo estar em plena sintonia para contornar rapidamente quaisquer problemas que possam vir a acontecer. Entretanto, penso que faltou um pouco de peso às atuações, uma vez que os personagens estavam numa situação extrema, com uma degradação limite, chegando ao ponto do desespero. O fácil seria transformar isso numa atuação canastrona televisa, ou controlar tanto que a estética do frio poderia passar pela inexpressividade. Porém, tanto a diretora, quanto o elenco, não optaram pelo óbvio, nem pelo fácil. Mas, mesmo assim, os atores não conseguiram atingir a profundidade e o peso que pessoas naquela situação carregam. Seria este fato pela pouca idade do elenco? Talvez, não sei dizer. Acredito que uma obra como esta, talvez necessitasse de um estudo prolongado, um trabalho de construção de personagens mais aprofundado e intenso...

A trilha sonora executada ao vivo trouxe um salto na qualidade do espetáculo. Muito bem executada, com os atores se revezando nos instrumentos. As músicas estavam muito adequadas à proposta e às situações que transcorriam em cena, agregando um toque de intimidade que jogava o espectador pra dentro da cena. Além disso, a iluminação foi muito competente, sabendo adaptar-se às características e recursos disponíveis no local. Refiro isso não apenas nas dimerizações das emissões de luz, mas também, relacionado à palheta cromática utilizada. As cores estavam muito de acordo com a ambientação e os climas propostos, compondo a cena consonantemente com os outros elementos.

Porém, nem tudo foram flores naquela noite. Apesar de haver uma fila imensa, dobrando a quadra com muitas pessoas querendo assistir ao espetáculo, quase lotando o espaço, antes do espetáculo começar, tivemos o desprazer de assistir a uma palhaçada – no pior sentido da expressão. Antecedendo o início da apresentação, uma pessoa que trabalha na prefeitura de Pelotas, sobe ao palco para entregar plaquinhas e troféus para os seus amigos e, inclusive, para si. Como se não bastasse essa baboseira, a pessoa ainda foi às lágrimas ao entregar placas em homenagem aos seus funcionários por terem trabalhado no evento que estavam organizando naquela semana. Ora vejam, as pessoas são pagas com dinheiro público para trabalharem e ainda gastam esse dinheiro para SE homenagearem pelo trabalho que deveriam ter obrigação de cumprir. No entanto, esta não foi a primeira vez, já que eu mesmo já presenciei, em outras duas oportunidades, esta mesma pessoa vir às lágrimas, em público, antes de um espetáculo, para oferecer homenagens a SI e a sua equipe.

Há uma grande inversão de valores nesta situação e, ao mesmo tempo, isto reflete a cara da política cultural para teatro neste município, uma vez que coloca em cargos pagos com dinheiro público pessoas despreparadas, sem formação e vivência artística para administrarem e fomentarem a cultura local. Mas, além disso, o que mais me chocou foi a falta de respeito com os artistas que estavam por se apresentar, pois caso estas pessoas não saibam, a equipe de um espetáculo teatral chega com muita antecedência no local, se prepara, necessita de concentração, aquecimento, aferição dos últimos detalhes. Tudo isso, para que possa estar em cena, na hora marcada. Quando uma pessoa resolve invadir o ambiente cênico para se aparecer, além de profanar o trabalho daqueles profissionais, atrapalha todo o preparo que o elenco teve para entrar em cena na hora certa. Obviamente, que o público presente não se mostrou muito contente com esta intervenção desagradável e não deu muita margem para que a entrega de prêmios se prolongasse, pois os espectadores ali presentes, havia se deslocado de suas residências para assistirem a uma peça de teatro, não para verem aquela situação absurda.

Apesar deste episódio embaraçoso para o município de Pelotas, o Grupo Cerco não se deixou abalar e apresentou o seu espetáculo com toda a garra e respeito que detém para com a arte. Quem pôde estar presente, saiu do teatro com o deleite de ter assistido a um espetáculo de excelente qualidade.

MSc.Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
www.ccetp.blogspot.com
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Sem Tropeço nos Dedinhos


Apesar da noite fria e chuvosa do dia 09 de outubro de 2010, algumas pessoas foram até o espaço do Grupo Tholl para assistirem ao espetáculo “Tropeço”, da Cia Tato Criação Cênica, de Curitiba/PR. Sutileza, sensibilidade e talento transbordaram através das mãos dos dois atores/manipuladores Dico Ferreira e Katiane Negrão.

Este foi um espetáculo com todos os exemplos de que para se fazer algo belo, não precisamos de grandes ornamentos cênicos. Os atores, apenas com a utilização das suas mãos e poucos elementos de cena conseguiam criar uma atmosfera de lirismo que prendeu e emocionou ao público do início até o final da peça. Não podemos dizer que se tratava de um teatro de manipulação apenas para adultos, pois as crianças presentes também ficaram encantadas com o que viram. Neste sentido, saliento o talento deste grupo, já que prender atenção de adultos em um espetáculo de manipulação que utiliza apenas as mãos, não é nada fácil.

Além disso, os diálogos entre as personagens se davam em uma língua incompreensível, uma espécie de “blablação”, mas as situações, imagens e a relação entre as personagens eram tão intensas que eu duvido que alguém perdeu a compreensão em algum segundo durante o espetáculo. A história trata de situações vividas entre casais, no caso, o casal em questão eram duas senhoras, já idosas, que iam expondo situações do seu dia a dia de maneira que muitos espectadores iam se identificando com os acontecimentos a cada cena. A maestria com que os atores desempenhavam sua função, possibilitava que os seus dedos adquirissem expressões faciais, demonstrassem múltiplos sentimentos e se transformassem em personagem extremamente carismáticas. O trabalho destes atores foi uma aula para aqueles que se dedicam às artes cênicas.

A iluminação do espetáculo era extremamente funcional e adequada à proposta, sabendo utilizar muito bem os recursos que haviam no local e propiciando a criação do clima que o espetáculo exigia. Também não posso deixar de comentar sobre a funcionalidade dos objetos de cena, todos adaptados ao tamanho das personagens e aos acontecimentos da história. Nada estava ali como elemento decorativo, ou fora de proposta apenas para preencher um espaço, tudo compunha aquele ambiente e passava a verossimilhança que o público precisa para gerar identificação. Além destes aspectos, não posso deixar de citar a trilha sonora que era muito bem executada vocalmente pelos atores, ou em alguns momentos com incursões externas muito adequadas.

Porém, me entristeceu o fato de chegar no local e ver que haviam muitos assentos disponíveis, muitas cadeiras vazias e muito espaço que poderia ter sido preenchido por espectadores que, possivelmente, nunca tiveram contato com um espetáculo desta linguagem anteriormente. O espaço do Grupo Tholl é amplo, extremamente adaptável a qualquer tipo de proposta cênica, muito bem equipado e com amplo espaço para receber um grande número de espectadores. Entretanto, não entendo a lógica dos contratantes de espetáculos teatrais que se destinam a vir a Pelotas, pois percebo que, mesmo os espetáculos sendo gratuitos, não encontramos plateias lotadas. Seria por falta de público na cidade de Pelotas?

Duvido. Numa cidade com quase 400 mil habitantes, alguém acha que não existe público para encher a plateia de um teatro? Quem achar que não, eu convido a ir pelas ruas a esmo e sair convidando as pessoas para assistirem a um espetáculo de teatro, duvido que não conseguíssemos lotar uma plateia rapidamente. Além disso, este espetáculo era gratuito, mais um motivo para não compreendermos porque haviam menos de 30 pessoas na plateia. Este fato é ainda mais absurdo quando pensamos que, nesta cidade, existem dois cursos universitários da área de artes cênicas, com quase 200 alunos e um corpo docente especialista na área. Persisto em bater nesta tecla de que, estudantes de artes não aprendem apenas lendo nos livros, precisam ir in loco, assistir, presenciar, compartilhar sobre as mais diversas expressões artísticas também fazem parte do seu aprendizado e de seus professores também, uma vez que precisam deste contato com a produção artística para que não tornem os seus conceitos desatualizados da praxis artística de nosso país.

Mesmo assim, não podemos pensar que apenas os estudantes de artes devam prestigiar aos espetáculos que visitam nossa cidade. O artista não pode ter o pensamento equivocado de que sua arte deva ser produzida apenas para alguns poucos iniciados, ou para apenas ficar no plano das ideias. No caso, sobre o teatro, é mais do que óbvio que o evento teatral só acontece quando temos o artista e o espectador. Mas, não acredito que alguém leve tanto tempo montando um espetáculo para apresentar para poucas pessoas. O que os atores mais querem é que seu trabalho seja visto pelo maior número de pessoas possível, senão não faria sentido fazê-lo.

No que se refere às plateias vazias na cidade de Pelotas, acredito que muitos aspectos estejam relacionados à incompetência das políticas culturais locais, da alienação dos trabalhadores da cultura em mobilizar a sociedade para estes equívocos na gestão cultural, da falta de reivindicação dos seus direitos e suporte para o seu mercado de trabalho. Além deste aspecto, está o fato dos contratantes de espetáculos locais trazerem espetáculos tão belos, como o da Cia Tato Criação Cênica, de Curitiba/PR e não divulgarem este espetáculo nos meios de comunicação locais da mesma forma que fazem quando trazem peças de teatro com elenco televisivo.

Outro aspecto importante e muito determinante é a falta de interesse e compromisso da mídia local com a divulgação de espetáculos que não tenham atores das telenovelas. Talvez isto seja reflexo da própria alienação dos trabalhadores dos meios de comunicação local que utilizam a televisão como sua única fonte de obtenção de algum tipo de referencial estético. Entretanto, cabe aos artistas locais pressionarem à mídia para que ela disponibilize espaço para quem não tem seu trabalho entre as celebridades oriundas de outras linguagens.

Apesar da plateia estar vazia, os que se fizeram presentes puderam desfrutar de um grande momento e de um espetáculo muito delicado. Espero que, em 2011, venham outros espetáculos com a mesma qualidade artística deste grupo. Mas que, nas próximas vezes a população pelotense possa ao menos saber que estes espetáculos estão vindo à cidade para decidirem se querem desligar o aparelho de TV e desfrutar de um programa cultural, possivelmente, pela primeira vez.

MSc.Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
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Os Verdes que Apodreceram Antes de Amadurecer


No dia 18 de agosto de 2010, veio a Pelotas o espetáculo “Os Meninos Verdes de Cora Coralina”, montagem do Grupo Voar de Teatro de Bonecos de Brasíla/DF. Confesso que, quando fiquei sabendo da proposta deste grupo em adaptar os poemas da artista de Goiás para o teatro de bonecos, pensei que teríamos um espetáculo de puro lirismo.

Infelizmente, não foi o que aconteceu. Fazer a adaptação da linguagem poética para a teatral por si só já exige uma grande habilidade. Além disso, qualquer montagem voltada ao público infantil deve ser feita com rigor e cuidado para não banalizar este público. Refiro isso, pois os primeiros equívocos que vimos se relacionaram à transposição dos textos poéticos adaptados para o mundo dos bonecos. Cora Coralina deve ter revirado o seu pó, onde quer que esteja, pois a beleza e sutileza dos seus textos não chegaram nem perto dos bonecos.

No que se refere à proposta do grupo, eles pecam ao não tomarem o devido cuidado com o acabamento dos bonecos, uma vez que, além de se destinarem ao público infantil, não conseguiam ter a expressão que um boneco deve passar. Em alguns momentos, os integrantes do grupo atuavam, como personagens, contracenando com os bonecos. Isto não é um problema, nem causa estranhamento nos espectadores, o que nos surpreendeu foi que o grupo não conseguiu encontrar um intermédio entre as duas linguagens para equilibrá-las em cena e as atuações, tanto dos bonecos, quanto dos atores perdiam a sua força.

Acredito que muitas das minhas críticas a este espetáculo também se devam ao fato de que ele foi apresentado no Teatro Guarany, uma casa de espetáculos muito grande, com um palco enorme para o tamanho dos bonecos. Possivelmente este espetáculo tenha sido criado para ser apresentado em espaços menores. Eu, por exemplo, assisti no fundo da plateia, atrás das crianças e perdi muitas coisas do espetáculo, pois não conseguia enxergar os detalhes dos bonecos. Para um palco como o do Teatro Guarany, os bonecos deveriam ter o triplo do tamanho para que toda a plateia pudesse vê-los em detalhes. Entretanto, esta deveria ser a proposta inicial de um grupo que se propusesse a montar um espetáculo de bonecos para grandes espaços. Porém, acredito que este problema se deva mais a uma falta de percepção do contratante local, com a produção do grupo.

Neste sentido, ainda gostaria de ressaltar que houve pouca divulgação do espetáculo na cidade, a plateia estava quase toda vazia. Isto é inadmissível numa cidade com o número de escolas que possui e a quantidade de estudantes de artes na universidade. Alguns poderiam tentar justificar que, em Pelotas, não existe público. Eu discordo, o que não existe é boa vontade dos contratantes em divulgarem e da mídia local em publicar matérias com espetáculos que não tenham atores de novelas. O Teatro Guarany tem uma capacidade enorme, muitas crianças de diversas escolas poderiam ter sido levadas para assistirem este espetáculo, independentemente das questões técnicas que avaliei anteriormente. Como pensar em políticas públicas para a cultura, numa cidade em que não se incentiva à formação de público para as artes em geral?

MSc.Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
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