O último mês do ano de 2010 teve uma intensa programação artística na cidade de Pelotas, com diversas apresentações de música, dança e teatro. Ops, teatro? Onde? A mídia divulgou?
No dia 04 de dezembro, esteve em Pelotas o espetáculo Auto da Paixão e da Alegria, com Grupo Timbre de Galo, de Passo Fundo/RS. Infelizmente, o grupo passou despercebido pela mídia local que perdeu a oportunidade de deslocar algum dos seus jornalistas para conhecer as histórias deste grupo que se originou do antigo Viramundos, patrocinado pela Universidade de Passo Fundo. Quando a universidade cortou os investimentos e o fomento em teatro, os artistas tiveram que dar outros rumos as suas carreiras. Para aqueles que os desconhecem, este grupo manteve um intenso trabalho dialogando com as linguagens de circo, teatro de rua, manipulação de bonecos e etc... viajando por todo o estado do Rio Grande do Sul, com um trabalho muito respeitado. Mas, além do respeito e reconhecimento pela crítica, o grupo mantinha um trabalho que era sucesso de público por onde passava.
No entanto, o público pelotense foi pego de surpresa quando viu a estrutura do grupo montada na Praça Cel. Pedro Osório, sem nem saber do que se tratava, nem quem eram aqueles artistas. Esta falha se deve à falta de comunicação dos contratantes, responsáveis pela produção local dos espetáculos e da imprensa local que está mais comprometida ao comportamento provinciano de só divulgar o que vem da TV ou das mídias prontas e massificadas do centro do país.
Além deste espetáculo, no dia 19 de dezembro, o Grupo Stravaganza, de Porto Alegre/RS veio a Pelotas apresentar o espetáculo Sacra Folia, na Praça Cel. Pedro Osório. Alguém ficou sabendo? Mais um trabalho de boa qualidade que passou despercebido pela população pelotense. O Grupo Stravaganza tem um dos trabalhos mais respeitados no Rio Grande do Sul, com diversos prêmios em seu currículo e com uma produção constante. Sucesso de crítica e de público por onde tem passado, infelizmente, os pelotenses ficaram sem saber que estes artistas viriam a sua cidade.
Assisti aos dois espetáculos, em outras oportunidades, fora de Pelotas. São duas montagens que dialogam muito com a linguagem do teatro de rua e com o circo. Os atores de ambas as montagens conseguem imprimir um ritmo rápido e de acordo com a proposta, segurando-o até o final do espetáculo. Em ambos os casos há uma forte identificação popular, se divertindo e se emocionando com as histórias apresentados. Em todo o lugar, quando o público tem a possibilidade de desfrutar de um espetáculo, sempre sai satisfeito.
Neste sentido, critico a falta de divulgação local. Não consigo compreender os objetivos dos projetos culturais dos contratantes que trazem estes espetáculos a Pelotas, já que, em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, as entidades que se destinam a propiciar certas atividades aos seus associados e à população em geral, divulgam e muito todas as suas atividades para atingir cada vez mais a um número maior de indivíduos. Porém, me parece que em Pelotas, os conceitos estão invertidos. Penso que reina a política do não-divulgar, pois já está tudo pago mesmo. Mas, além disso, percebo o total desinteresse da mídia local em divulgar propostas artísticas que não contenham celebridades de capas de revistas em seus elencos. Talvez, porque as pessoas que compõem a mídia local utilizem apenas estas revistas como sua fonte de informação e “cultura”. Quem perde com isso? Toda a população pelotense que deixa de ter acesso às informações e a estas obras artísticas. Como contornar este problema? Com políticas culturais eficientes e com equipe competente gerindo a cultura local, com os trabalhadores da cultura menos alienados e reivindicando os seus direitos.
Espero que este quadro se modifique em 2011.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
vagnervarg@yahoo.com.br, www.ccetp.blogspot.com
... a questão é muito pertinente e igualmente intranquilizante... toca, aliás, em um dos pontos que, justamente, considero crítico, o da comunicação com o público...Como contornar este problema? Seria de se esperar que os responsáveis diretos pelas apresentações tomassem a si esta responsabilidade e que tivessem a atenção devida dos meios de comunicação... mas se isto não está acontecendo vamos procurar ir fazendo a nossa parte... uma divulgação prévia através deste blog ajudaria assim como uma maior participação nos comentários...penso que isto já poderia ser um pequeno passo a contribuir para melhorar esta relação de desconhecimento por parte do público...
ResponderExcluirConcordo com essa sua sugestão P.R.
ResponderExcluirTambém acredito que esse blog sirva para ir divulgando a produção teatral pelotense que não recebe atenção da mídia local. O único problema que vejo na sua sugestão seria quanto aos comentários, pois esse blog é lido pela maioria das pessoas que circulam pela meio cultural de Pelotas, mas, para colocar um comentário aqui, em primeiro lugar, precisariam expor um ponto de vista e sustentá-lo.
As pessoas preferem se esconder no anonimato e a sua covardia impede o diálogo. Ao expor o seu ponto de vista, você precisa se posicionar e, em Pelotas, as pessoas temem - não sei o que, nem a quem - mas temem expor seus potnos de vista.
O silêncio pode ser interpretado pela mídia e pelo poder público, como falta de interesse das pessoas que pretendem trabalhar com cultura. Se essas pessoas preferem a alienação e o silêncio, a política cultural local é definida e comandada ao bel prazer de quem quiser determinar qualquer coisa, pois jamais haverá um protesto, reivindicação ou contestação, já que, para isso, é necessário um posicionamento.
Convoco a todos os que têm coragem e subsidios para exporem seus pontos de vista aqui nesse site. Àqueles que preferem se beneficiar às custas dos que expõem, fundamentam seus pontos de vista e reivindicações, espero que sejam identificados por todos como oportunistas e não merecedores de crédito artístico.
Se um dia essa cidade teve uma produção cultural que era referência no estado, com uma intensa agenda durante o ano todo, isso se devia ao fato das pessoas que trabalhavam com arte naquela época terem coragem de reivindicarem e exigirem os seus direitos.