sexta-feira, 31 de maio de 2013

Berliner Ensemble traz Mãe Coragem, de Betold Brecht, para Ensinar o Verfremdungseffekt ao Público Local


Os sites de compras de ingressos já avisavam com um mês de antecedência que o espetáculo estava com seus bilhetes esgotados. Na bilheteria do teatro e nos postos de vendas do 19° Porto Alegre em Cena, a informação era a mesma. Porém, a procura por desistências e novos ingressos era imensa em todos os locais. Parecia que até mesmo aqueles que desconheciam Bertold Brecht ou o Berliner Ensemble sabiam que se tratava de um espetáculo especial e, por isso, merecia tamanho esforço para assisti-los.

Eu, assim como muitos, não consegui comprar os ingressos pela internet. Cheguei em Porto Alegre três dias antes da apresentação do espetáculo no dia 06 de setembro de 201. Não adiantou muito. Apesar de peregrinar por vários postos de vendas e aguardar horas sentado em frente à da bilheteira do Theatro São Pedro, não consegui comprar o ingresso.

Mesmo assim, não desisti. Cheguei 10 minutos antes do teatro abrir suas portas e fiquei observando a imensa fila de pessoas que dispunham de ingressos, assim como a outra fila dos que, como eu, tinham esperança de conseguir a liberação de cadeiras extras ou o surgimento de ingressos à venda naquele momento. Infelizmente, isso não ocorreu. Porém, enquanto caminhava pela frente do teatro ouvi umas senhoras comentando a felicidade de poderem comprar os ingressos com desconto, devido a sua faixa etária, o que lhes permitia assistir a um número maior de pelas de teatro durante o Festival.

Então, quando começo a me afastar uma delas diz para outra que comprou um ingresso a mais e que tentaria vendê-lo. Na mesma hora, saltei em direção a essa senhora e pedi para comprar o ingresso. Assim que me viu, uma outra moça chegou um pouco atrasado e a idosa me ofereceu o bilhete pelo preço integral. Quando questionei-lhe se não havia o comprado pela metade do preço, minha adversária saltou e disse que pagaria o preço integral. Por uma questão de honra e por ter chegado primeiro, paguei o valor integral. A contra gosto, pois poderia ter pago 50% daquele valor. Mas, se não fosse assim, talvez eu não tivesse conseguido adentrar o teatro.

Começo o texto narrando essa minha saga por um ingresso, mas também gostaria de divulgar a minha indignação pelos altos valores dos ingressos para algumas apresentações durante esse evento. Esse festival de teatro que acontece na capital gaúcha recebe incentivos públicos, assim como verbas da iniciativa privada. Compreendo perfeitamente que o espectador deva aprender que tem que pagar para assistir ao trabalho dos artistas, do mesmo modo que paga para assistir a jogos de futebol, entradas e bebidas alcoólicas em casas noturnas.

Não me aterei muito a essas questões, pois já as abordei no texto publicado aqui: http://criticasparateatro.blogspot.com.br/2013/05/porto-alegre-em-cena-e-um-publico-avido.html  . O público deve aprender a valorizar e a pagar pelo trabalho dos inúmeros profissionais que trabalham no mercado artístico, assim como toda a economia indireta que se forma durante tais eventos. No entanto, isso não é desculpa para que os valores dos ingressos sejam tão altos.

Bom, após toda essa explanação, comentarei sobre o quanto a apresentação da peça Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, me tocou durante os seus 180 minutos. A peça escrita em 1939, estreou em 1941, em Zurique. Mãe Coragem é uma mulher que tenta salvar os seus filhos dos horrores da guerra, conduzindo uma carraça com objetos que são vendidos tanto aos militares, quanto à população em geral. A personagem perde seus dois filhos para as propostas ilusórias do exército. Lá, esses dois garotos perdem suas vidas. Durante esse período, Mãe coragem continua sua peregrinação entre os destroços da guerra, tendo ao seu lado a sua filha muda.

Durante a peça, apesar do horror da guerra, vemos a descoberta de romances e momentos de lirismo, quando cada uma das personagens revela um pouco do que há de mais íntimo. Infelizmente, a menina muda perde a sua vida, tentando avisar aos moradores de uma pequena localidade sobre um ataque militar que se aproxima. Ante toda essa barbárie, Mãe Coragem decide continuar, pois não lhe resta outro destino, senão sobreviver.

O texto de Bertolt Brecht – grafia diferente do seu nome de nascimento, pois o escritor alemão gostava que seu nome fosse escrito dessa forma – traz à tona todo o contexto político vivido na Alemanha durante aquele período. Além disso, essa peça é um ótimo exemplo de como podemos analisar as características defendidas por Brecht sobre como deveria ser o seu teatro. Por todos esses motivos e muitos outros que eu poderia citar aqui, recomendo a leitura das muitas peças de teatro escritas por esse gênio da dramaturgia teatral.

O Berliner Ensemble é uma companhia de teatro alemã fundada em 1949, por Bertolt Brecht e sua esposa, a atriz Helene Weigel. Atualmente, o Berliner Ensemble está situado no Theater am Schiffbauerdamm, em Berlim. A companhia trabalha em consonância com os preceitos defendidos e propostos por Brecht e que revolucionaram a perspectiva do fazer teatral a partir de então.

A montagem que chegou ao palco do Theatro São Pedro era linda. Aliás, perfeita! Não há outra palavra para definir o espetáculo que pude ter o prazer de assistir e do quanto aquele trabalho mexeu comigo.

Inicialmente, ao entrarmos na plateia do teatro, víamos que o palco estava adaptado, diferente das suas proporções tradicionais, do tipo italiano, já que o palco do Berliner Ensemble, em sua sede, tem outras proporções espaciais. Toda a estru

...

Vagner Vargas
Ator – DRT: 6606
Crítico de teatro


Nenhum comentário:

Postar um comentário