Os sites de compras de ingressos já avisavam com um mês de
antecedência que o espetáculo estava com seus bilhetes esgotados. Na bilheteria
do teatro e nos postos de vendas do 19° Porto Alegre em Cena, a informação era
a mesma. Porém, a procura por desistências e novos ingressos era imensa em
todos os locais. Parecia que até mesmo aqueles que desconheciam Bertold Brecht
ou o Berliner Ensemble sabiam que se tratava de um espetáculo especial e, por
isso, merecia tamanho esforço para assisti-los.
Eu,
assim como muitos, não consegui comprar os ingressos pela internet. Cheguei em
Porto Alegre três dias antes da apresentação do espetáculo no dia 06 de
setembro de 201. Não adiantou muito. Apesar de peregrinar por vários postos de
vendas e aguardar horas sentado em frente à da bilheteira do Theatro São Pedro,
não consegui comprar o ingresso.
Mesmo
assim, não desisti. Cheguei 10 minutos antes do teatro abrir suas portas e
fiquei observando a imensa fila de pessoas que dispunham de ingressos, assim
como a outra fila dos que, como eu, tinham esperança de conseguir a liberação
de cadeiras extras ou o surgimento de ingressos à venda naquele momento.
Infelizmente, isso não ocorreu. Porém, enquanto caminhava pela frente do teatro
ouvi umas senhoras comentando a felicidade de poderem comprar os ingressos com
desconto, devido a sua faixa etária, o que lhes permitia assistir a um número
maior de pelas de teatro durante o Festival.
Então,
quando começo a me afastar uma delas diz para outra que comprou um ingresso a
mais e que tentaria vendê-lo. Na mesma hora, saltei em direção a essa senhora e
pedi para comprar o ingresso. Assim que me viu, uma outra moça chegou um pouco
atrasado e a idosa me ofereceu o bilhete pelo preço integral. Quando
questionei-lhe se não havia o comprado pela metade do preço, minha adversária
saltou e disse que pagaria o preço integral. Por uma questão de honra e por ter
chegado primeiro, paguei o valor integral. A contra gosto, pois poderia ter
pago 50% daquele valor. Mas, se não fosse assim, talvez eu não tivesse
conseguido adentrar o teatro.
Começo
o texto narrando essa minha saga por um ingresso, mas também gostaria de
divulgar a minha indignação pelos altos valores dos ingressos para algumas
apresentações durante esse evento. Esse festival de teatro que acontece na
capital gaúcha recebe incentivos públicos, assim como verbas da iniciativa
privada. Compreendo perfeitamente que o espectador deva aprender que tem que
pagar para assistir ao trabalho dos artistas, do mesmo modo que paga para
assistir a jogos de futebol, entradas e bebidas alcoólicas em casas noturnas.
Não
me aterei muito a essas questões, pois já as abordei no texto publicado aqui: http://criticasparateatro.blogspot.com.br/2013/05/porto-alegre-em-cena-e-um-publico-avido.html . O público deve aprender a valorizar e a pagar
pelo trabalho dos inúmeros profissionais que trabalham no mercado artístico,
assim como toda a economia indireta que se forma durante tais eventos. No
entanto, isso não é desculpa para que os valores dos ingressos sejam tão altos.
Bom, após
toda essa explanação, comentarei sobre o quanto a apresentação da peça Mãe
Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, me tocou durante os seus 180 minutos. A peça escrita em 1939, estreou em 1941, em Zurique. Mãe
Coragem é uma mulher que tenta salvar os seus filhos dos horrores da guerra,
conduzindo uma carraça com objetos que são vendidos tanto aos militares, quanto
à população em geral. A personagem perde seus dois filhos para as propostas
ilusórias do exército. Lá, esses dois garotos perdem suas vidas. Durante esse
período, Mãe coragem continua sua peregrinação entre os destroços da guerra,
tendo ao seu lado a sua filha muda.
Durante
a peça, apesar do horror da guerra, vemos a descoberta de romances e momentos
de lirismo, quando cada uma das personagens revela um pouco do que há de mais
íntimo. Infelizmente, a menina muda perde a sua vida, tentando avisar aos
moradores de uma pequena localidade sobre um ataque militar que se aproxima.
Ante toda essa barbárie, Mãe Coragem decide continuar, pois não lhe resta outro
destino, senão sobreviver.
O
texto de Bertolt Brecht – grafia diferente do seu nome de nascimento, pois o
escritor alemão gostava que seu nome fosse escrito dessa forma – traz à tona
todo o contexto político vivido na Alemanha durante aquele período. Além disso,
essa peça é um ótimo exemplo de como podemos analisar as características
defendidas por Brecht sobre como deveria ser o seu teatro. Por todos esses
motivos e muitos outros que eu poderia citar aqui, recomendo a leitura das
muitas peças de teatro escritas por esse gênio da dramaturgia teatral.
O
Berliner Ensemble é uma companhia de teatro alemã fundada em 1949, por Bertolt
Brecht e sua esposa, a atriz Helene Weigel. Atualmente, o Berliner Ensemble
está situado no Theater
am Schiffbauerdamm, em Berlim. A companhia trabalha em consonância com os
preceitos defendidos e propostos por Brecht e que revolucionaram a perspectiva
do fazer teatral a partir de então.
A
montagem que chegou ao palco do Theatro São Pedro era linda. Aliás, perfeita!
Não há outra palavra para definir o espetáculo que pude ter o prazer de
assistir e do quanto aquele trabalho mexeu comigo.
Inicialmente,
ao entrarmos na plateia do teatro, víamos que o palco estava adaptado,
diferente das suas proporções tradicionais, do tipo italiano, já que o palco do
Berliner Ensemble, em sua sede, tem outras proporções espaciais. Toda a
estru
...
Vagner
Vargas
Ator
– DRT: 6606
Crítico
de teatro
Texto
completo publicado em: http://criticasparateatro.blogspot.com.br/2013/05/berliner-ensemble-taz-mae-coragem-de.html
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