No dia 11 de Novembro, Pelotas foi brindada com o espetáculo Simplesmente Eu, Clarice Lispector, interpretado pela atriz Beth Goulart. Neste monólogo, foram contados alguns aspectos da vida desta escritora. Desdobrando-se em cinco personagens de alguns livros, por vezes intercalados pela própria escritora, Beth mostra um trabalho de atriz maduro e à altura de Clarice Lispector.
Para os que puderam prestigiar este espetáculo, ficou evidente que os dois anos de pesquisa que a atriz dedicou à concepção desta peça, mais os seis meses à construção da dramaturgia cênica, um mês de trabalho com a diretora e, por fim, um mês ensaiando com cenários, figurinos, elementos de cena, sonoplastia, contra-regragem e iluminação, não foram em vão, tendo em vista o resultado artístico. Este fato nos chama atenção para que o público perceba o volume de trabalho despendido para a construção de um espetáculo teatral. Muitas vezes acredita-se que basta aos atores decorarem o texto, seguirem às orientações do diretor e, em poucos ensaios, a peça está pronta. Qualquer espetáculo teatral resulta de um intenso e laborioso trabalho de toda uma equipe que se desdobra durante meses para levar ao grande público um espetáculo com qualidade. Relato isto para que Pelotas comece a pensar nas condições de trabalho que devem ser criadas para que seus artistas venham a produzir obras com qualidade artística. Se não houver uma estrutura que lhes propicie condições dignas de trabalho e subsistência a partir de sua arte, de que forma conseguiremos fazer com que os artistas pelotenses sejam reconhecidos?
Voltando à peça, não posso deixar de analisar alguns aspectos técnicos da atriz que, para obter sentido do que desejava falar, reescreveu Clarice, conectando palavras para resignificá-las, através de um trabalho com bases evidentes no teatro físico. Além disso, ressalto o trabalho vocal, pois independentemente do local onde o expectador estivesse, podia ouvir as personagens em suas diferentes entonações, sem maiores dificuldades. Obviamente que isto é favorecido pela excelente acústica do Teatro Sete de Abril. Entretanto, se não houvesse um trabalho vocal evidente nesta atriz, observaríamos gritos e projeções vocais equivocadas tão freqüentes entre os atores que não se preocupam com o trabalho vocal contínuo.
Além de uma direção delicada e precisa, não posso deixar de citar a dramaturgia da luz, presente neste espetáculo. Trabalhar luz branca é sempre considerado um desafio aos iluminadores. Mas, não apenas isto, se percebia um iluminador conectado ao trabalho da atriz, permitindo que a luz compusesse um elemento orgânico, sutil e preciso para manter o público atento à história. Acrescentam-se ainda um figurino funcional e belo, além de uma sonoplastia discreta, todos adequados à proposta.
Outro aspecto que me chamou atenção, foi o silêncio observado na plateia durante todo o espetáculo. Não poderíamos esperar algo diferente para quem se destina a assistir uma obra de Clarice Lispector. No entanto, o público pelotense ainda precisa aprender a respeitar aos artistas que estão encenando e ao restante da plateia. Embora sempre ocorram advertências quanto ao uso de celulares e aparelhos sonoros no interior de teatros, algumas pessoas ainda insistem na grosseria e desrespeito, mantendo-os ligados. Além disso, quando as pessoas circularem pelos corredores dos camarotes, galerias e cadeiras laterais do teatro, devem tomar cuidado para que o salto de seus sapatos ou a intensidade do seu caminhar não acabe prejudicando a atenção de que qualquer espetáculo necessita. Infelizmente, preciso despender algumas linhas deste texto para relatar o comportamento inadequado de algumas pessoas da plateia. Contudo, espero que, nos próximos eventos culturais, a sociedade pelotense compreenda certas regras de comportamento dentro de um teatro.
Portanto, fica aqui o registro de mais um espetáculo teatral com a qualidade que Pelotas merece, ainda mais quando foi concebido por uma excelente atriz que resolveu homenagear uma das mais brilhantes escritoras brasileiras de todos os tempos. Espero que em breve possamos contar com mais trabalhos deste nível aqui na cidade.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do CCETP
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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