Ao
primeiro olhar, trabalhar para crianças pode parecer fácil. No entanto, o
público infantil é dos mais difíceis de conquistar. Por esse motivo, peças de
teatro direcionadas a esses espectadores necessitam de um cuidado redobrado,
ainda mais quando se propõe a ser um musical.
O
texto a seguir tratará do espetáculo “A Sopa de Pedra”, sob autoria de Tatiana
Belinky, trazido Pelotas, no dia 31 de
março de 2012, pelo Grupo Luz e Ribalta, da Cooperativa Paulista de Teatro. O
elenco é formado por Luiz Amorim, Níveo Diegues, Theodora Ribeiro, Renato Comi
e Erick Chica que tratam de dar vida aos personagens da história cantando e
executando músicas a vivo. O espetáculo conta a história de dois amigos
músicos, cansados e famintos que encontram no meio do caminho, a casa de uma
senhora idosa e avarenta. Logo de cara, os dois artistas tentam ludibriar essa
senhora para que eles possam ficar ali, enquanto descansam e ela os alimenta.
Obviamente, a idosa não se deixa enganar e acaba aplicando várias peças nos
dois mambembes, em uma trama recheada de situações engraçadíssimas, permeadas
por uma trilha sonora encantadora.
Competência,
essa é a palavra que melhor defino o trabalho desse grupo. Realmente, vemos um
espetáculo coeso que foge dos estereótipos infantis e propõe uma maneira de
contar essa história que traz o público pra dentro da cena. Essa é uma tarefa
bastante complicada, uma vez que, em se tratando de crianças, a sinceridade na
resposta é franca e direta. O que pudemos observar, foram crianças felizes e
extremamente atentas ao que lhes estava sendo apresentado. Claro que esse
resultado só foi possível, pois os atores além de terem um carisma imenso,
souberam como envolver o público presente. Esse tipo de identificação e conexão
entre artista e espectador costuma ocorrer quando há verdade naquilo que está
sendo representado. O termo que utilizo aqui se refere à verossimilhança das
personagens em cena. Nesse caso, a reverência deve ser feita ao trabalho
competente de todos que compõem o Grupo Luz e Ribalta.
Além
de interpretarem os personagens da peça, os atores também cantam ao vivo, enquanto
se dividem na execução instrumental das músicas. Particularmente, aprecio muito
quando podemos ver o trabalho dos músicos desvelado em espetáculos teatrais com
a trilha sendo apresentada ao longo da peça. Esse tipo de peculiaridade,
poderia distanciar e quebrar com a impressão de fantasia e universo imaginário
que as crianças desenvolvem ao assistirem a uma peça de teatro. Entretanto,
quando bem feito, o efeito é inverso. O público infantil sabe muito bem ler
todas as informações e signos que lhes são expostos e, no caso dessa peça, a
música ao vivo serviu como um catalisador da boa recepção teatral.
Bom,
quando falo nas músicas, não posso deixar de citar que os arranjos foram muito
bem compostos e, também, obtiveram o mesmo sucesso quando foram cantados. A diversidade
de situações que acontecem nos bastidores de um espetáculo e o contato dos
atores com o público, poderia levá-los às armadilhas da desafinação ou a
semitonar as entradas de algumas músicas. Todavia, isso não foi observado.
Gosto de salientar esse tipo de situação, pois acredito que, para cantar numa
peça de teatro, não basta apenas ao ator querer ou ser “afinadinho”, ele tem
que ter técnica para tanto e saber que, mesmo um ouvido não musicalisado, tem
condições de perceber quando uma música é mal cantada. No caso de “A Sopa de
Pedra”, o elenco está de parabéns pela sua performance musical.
A
única ressalva que eu faria nesse espetáculo, se refere aos figurinos e cenário
de Carlos Colabone que me pareceram um tanto quanto pesados. Quando falo em
peso, estou fazendo referência à paleta de cores utilizadas no todo da
composição do visagismo cênico. Acredito que os tons terrosos imprimiam uma
percepção monocromática do universo daquelas personagens. Porém, essa é apenas uma
sensação particular minha, uma vez que não posso negar que havia uma extrema
coerência na proposta de ambientação cênica. Além disso, também acredito que
não precisamos transformar figurinos de peças infantis em fantasias coloridas
de escolas de samba, pois isso seria subestimar a percepção estética das
crianças. Ademais, concordo que, na medida em que o figurino assumiu um papel
discreto dentro do espetáculo, o trabalho dos atores se sobressaiu e colaborou
para dar veracidade ao todo da concepção cênica. Volto a salientar que os
figurinos eram funcionais, lindos e imprimiam identidade aos personagens,
apenas pesaram um pouco aos meus olhos. Contudo, não podemos negar de que se
trata de um trabalho muito competente.
Portanto,
aqueles que tiveram o prazer de assistir a esse espetáculo numa tarde de
sábado, saíram do Teatro do COP encantados com uma ótima apresentação de teatro
infantil. Além disso, considero de extrema importância que os pais levem os
seus filhos ao teatro, não apenas para terem um contato direto com um
espetáculo, mas também por estarem contribuindo na formação de um indivíduo
mais crítico e com um repertório estético de mundo diferenciado dos demais.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.
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